Entrevista com o Mestre de shibari Osada Steve (長田スティーブ)

Você pode encontrar a versão deste artigo, traduzido para o Português por SorgBrasil de

Shibari Dojo Brasil neste link: Apreciá-lo!

 

Nota do tradutor: Esta entrevista foi traduzida do site www.tokyobound.com com autorização dos responsáveis pelo site.  A tradução foi realizada por Senhor Carlos, Revisão por Sørg e myä.  Nós do Shibari Dojo Brasil, esperamos que vocês apreciem ler esta tradução tanto quanto nós apreciamos realizá-la. Qualquer sugestão de melhoria na tradução entre em contato.

Ao final deste ano(2009), Osada Steve (長田スティーブ) teve a honra de ser entrevistado por DemonSIX, que não é apenas a figura proeminente do Fetlife, mas também membro privilegiado do círculo íntimo de amizades de Master K .

Esta entrevista apareceu a primeira vez no grupo Kinbaku do Fetlife.

Como o senhor se iniciou no Kinbaku (緊縛)?

 

Eu tive três fases de bondage com cordas na minha vida.

A tão-chamada Ocidental: Da infância até 1997, quando eu amarrava qualquer mulher na qual eu pudesse colocar as mãos.

Shibari (縛り): De 1998 a 2006, quando o póstumo Osada Eikichi Sensei me colocou inicialmente sob suas asas, e então eu prosegui sob as orientações do póstumo Akechi DenkiSensei, por mais ou menos quatro anos, seguindo meus estudos com o Nawashi KannaSensei.

Kinbaku (緊縛): Desde 2007, quando eu embarquei nos estudos das técnicas Shuuchinawa (羞恥縄) e Newaza (寝技) sob instrução de Yukimura Haruki Sensei. Foi a partir desta terceira fase que finalmente todas as peças começam a formar um conjunto, passando a fazer sentido para mim.

Na minha linha de trabalho eu faço uma clara distinção entre ShibariKinbaku. Você pode dizer que me levou oito anos para que eu entende-se o Shibari, e que agora estou no meu terceiro ano da minha tentativa de desvendar os mistérios do Kinbaku.

De qualquer maneira, essa não foi a minha única janela de oportunidade, o evento fortuito foi Osada Eikichi Sensei ter me escolhido para que eu me tornasse seu discípulo, Sem isso, eu poderia ter continuado a amarrar mulheres sem saber o que estava fazendo.

As pessoas, como regra geral, têm preconceitos sobre as atividades e os estilos de vida antes de ingressarem neles. Para o senhor, como o mundo do Kinbaku no Japão foi diferente do que o senhor esperava?

Eu cresci lentamente e me fortalecendo no simbolismo do Shibari depois de ter chegado ao Japão, há aproximandamente 30 anos. Uma vez tendo sido iniciado meu treinamento formal, de bom grado fui me envolvendo sem nenhum grande preconceito – ou parcialidade.

Qual foram as experiências mais estimulantes do senhor como Kinbakushi no Japão?

Eu raramente uso a palavra Kinbakushi. E eu nunca utilizo este termo para descrever minhas próprias atividades. Há algo que chamamos Jo-Ryu Kinbakushi, que descreve mulheres que praticam shibari. Bakushi femininas no Japão amarram muitos homens, e
precisam ajustar seus estilos de acordo.

Minhas experiências mais estimulantes ocorrem quando realizo  minhas apresentações de Kinbaku ao vivo em meu próprio local, Studio SIX  – Tokyo. Porquê aqui eu tenho meu próprio ritmo e posso desenvolver uma conexão com a modelo, atingindo um certo tipo de troca emocional que vai além do aspecto meramente técnico de amarrar.

Todas as demais atividades, como apresentações de palco e a maioria do meu trabalho em vídeo, eu o descrevo como Shibari. Para mim, Shibari é meramente realizar bondage no estilo Japonês, produzindo amarrações de acordo com a estética Japonesa.

Para uma sessão de cordas ser qualificada como Kinbaku, você têm que ir para dentro da mulher, tocar a sua alma.

Novamente, ao olho nú ou para aqueles que não trabalham profissionalmente neste gênero, é difícil captar as diferenças. Mas isso é como eu sinto.

Para ficar bem entendido: eu não estou me referindo ao efeito óbvio que a corda tem para qualquer pessoa que curte ser amarrada – chame-o de rope subspace se preferir. (Nota do Tradutor: Termo usado em analogia com o subspace dentro de um contexto SM, só que relacionado a cordas )

Como para o senhor está indo a ramificação internacional do Studio SIX? Algum plano novo para o futuro?

Em 2007, foi inaugurado o Studio SIX Berlin aka Osada Kinbaku Dojo Berlin por três dos meus alunos Alemães, com o objetivo de introduzir as técnicas Japonesas de corda na comunidade de cordas Européia.

O benefício é que no Studio SIX Berlin, há treinadores licenciados que provêm instruções baseadas no Osada-Ryu. (Nota do Tradutor: Atualmente o Dojo Oficial na europa é localizado em copenhagen.)

Osada-Ryu é um sistema de Shibari (e em níveis mais elevados, um sistema de Kinbaku) que foi por mim desenvolvido ao longo de anos, baseado no meu treinamento em diversos estilos e baseado na minha experiência prática e de palco.

O sistema cobre tudo, desde amarrações básicas até sequências de suspensões complexas.

Tradicionalmente, o conhecimento sobre técnicas de amarração Japonesas eram passadas do Mestre ao Deshi – este aprendendo por observação. A vantagem do sistema tradicional é que o estudante adquire igualmente uma fundação sólida dos aspectos psicológico e filosófico que acompanham o estilo particular de Shibari/Kinbaku de um Mestre em particular.

A desvantagem é que há apenas um pequeno número de Mestres Japoneses. Como estrangeiro, se você deseja tomar a rota tradicional, você ainda terá que viver no Japão e aprender a língua.

Osada Ryu não foi criado ensinar amarrações divertidas para o público em geral, está focado no estado da arte das técnicas usadas por profissionais no topo de suas carreiras. O verdadeiro poder destas técnicas apenas se revela depois de estudos sérios, e não se presta a aulas curtas no circuito de um evento.

Por todo o ano eu ofereço a Shibari/Kinbaku Clinics, em Tóquio, para estudantes dedicados de outros continentes. Estes intensivos são aulas um-a-um e tipicamente envolvem imersão total no curso ao longo de  várias semanas; geralmente consistem em duas horas de treinamento/instrução seguidas por três horas de prática por dia. Se julgo haver seriedade e esforços do estudante, o treinamento inclui visitas a alguns dos grandes Mestres da arte, como Yukimura Haruki.

Eu tenho analisado os blocos construtivos das amarrações, que são os fundamentos da arte, e os tenho quebrado em micro unidades (kata) que facilitam o estudo eficiente.

Por exemplo, o Osada Ryu 3-rope Takatekote utilizado na suspensão  Yoko tsuri consiste em 61 passos individuais somente para a  parte funcional/estrutural. A amarração contém tantos elementos importantes, que uma vez havendo sido ensinada esta amarração, você passará a ver as outras amarrações com uma leveza completamente diferente e irá começar a amarrar em um nível totalmente diferente.
Às vezes as pessoas ficam impressionadas com a velocidade com que eu amarro. Eu não estou me movendo mais rápido que os demais. Eu apenas aprendi a otimizar minhas amarrações, resultando em maneiras mais ergonômicas e econômicas de como mover a corda. Velocidade (não pressa) é igual a segurança. A velocidade vêm de desvendar os segredos de cada amarração Japonesa tradicional.

Novamente: isso não tem a ver com a rapidez com que você se move, mas com o nível de otimização que você atinge. Falando simplesmente, quanto mais nós uma amarração incluir, mais tempo ela vai levar para ser construída. Se você tentar uma amarração significativamente complicada, como uma suspensão Teppo Shibari, que coloca a modelo em uma posição muito restritiva, você precisa contar que a pessoa sendo amarrada pode precisar ser desamarrada logo após você ter atingido a suspensão.

Um Bakushi que puder amarrar rapidamente, deve poder desamarrar rapidamente. Como Akechi Denki disse em certa feita: em Shibari a velocidade em desamarrar é
Rei (nota do tradutor: em breve será publicada a entrevista do akechi que possui esta citação).

Mas retornando à sua questão original. Não existem planos (em 2009) de abrir franquias de Studio SIX por todo o mundo. Então, para o futuro em vista, se alguém deseja estudar o Osada Ryu, terá que me visitar em Tóquio, ou contatar o Studio SIX Berlin. (Nota do Tradutor: Atualmente,  deve-se visitar Tóquio ou o  Copenhagen Shibari Dojo)

Como a vida social têm sido para o senhor no Japão? O senhor possui fora das suas
atividades profissionais um círculo de amigos que gosta de praticar Kinbaku? Há algum outro Kinbakushi Japonês do qual o senhor gostaria de falar?

A vida em Tóquio é especialmente estressante. Aluguéis são caros, as casas são pequenas. Tão pequenas, que as pessoas as usam apenas para dormir. Nestas circunstâncias, convidar amigos é próximo ao impossível. Como resultado, a maioria das atividades culturais ocorre na rua – em restaurantes, clubes, bares.

Eu não sou uma pessoa muito sociável. Não que não goste de gente, mas eu me sinto mais
confortável comigo mesmo. Pode-se dizer que minha vida social é inexistente.

Pensando bem,  eu tive amizade com um estudante meu e quando havia tempo, algumas
vezes visitávamos Clubes SM para aplicar nosso Shibari ao vivo.

Como foi o seu período de aprendizado e treinamento sob Osada Eikichi?

Aqui você precisa distinquir entre um Deshi (discípulo) e um estudante. Como Deshi, você não recebe lições. Um Deshi precisa ter na mente cada movimento do seu Shisho (mestre), tentando mesmo antecipar movimentos futuros a fim de prover um ambiente de trabalho tranquilo. Um Deshi precisa observar e *roubar*  (nusumu 盗む) as técnicas.

Este tipo de relacionamento é bastante usual nas artes tradicionais Japonesas, mais devido à natureza do Kinbaku, e raro no mundo do Shibari.

Para exemplificar, quando Osada Eikichi Sensei foi se tornando mais e mais frágil, eu estive muito próximo dele, o acompanhando até mesmo ao banheiro. Ser um Deshi é como estar casado. É uma relação muito próxima, amorosa.

O que aprendi naqueles tempos foi respeito, tradição, integridade – e como tocar o negócio.

Osada Eikichi Sensei, no seu auge, chegou a arrecadar um milhão de dólares por ano apenas com suas apresentações ao vivo. O que meu convívio me ensinou foi ter atitude profisional no meu trabalho de prover entretenimento com cordas.

O senhor dispendiou muitos recursos e tempo provendo o Ocidente de informações via o
blog ToykoBond.com. Há alguém do Japão que o senhor gostaria de que fosse citado e que o senhor acredita que ainda não está sendo bem coberto aqui no Ocidente?

O blog TokyoBond foi atualmente iniciado por KabukiJoe que desejava dividir com a comunidade internacional de cordas o que estava correndo em Tóquio. Minhas contribuições lá são modestas, basicamente consistindo em algumas entrevistas com algumas das pessoas High-Profile do Japão.

Há muitas pessoas excelentes em cordas no Japão que operam  fora do circuito profissional – devido ao fato de que desejam permanecer anônimas ou porquê ainda não tiveram o retorno financeiro que desejam.

Os conhecimentos destas pessoas ultrapassam facilmente alguns dos perfis dos melhores Bakushi Japoneses de alto nível. Muitas vezes elas tocam pequenos salões, ou círculos, nos quais se reúnem alguns estudantes do seu círculo de amigos. E ainda é aí que se pode encontrar o melhor Shibari e Kinbaku de todo o universo. Estes são indivíduos extremamente talentosos e experientes que seguem a tradição, sem se deixarem constrangir por impedimentos comerciais.

Sim, ocultos aos olhos Ocidentais há alguns excelentes praticantes de Shibari/Kinbaku, mas eu não tenho certeza de que eles gostariam de ser comentados.

Há todo um universo além do que os entusiastas por cordas medianos podem encontrar em DVD ou navegando pela Internet.

No entanto, há uma pessoa que sinto que todo mundo deveria conhecer: Nawashi Kanna Sensei (縄師神凪先生), um Bakushi (縛師) extremamente talentoso que contribuiu de sobremaneira para manter viva a linhagem de Akechi Denki. Em termos dos estilos Semenawa e Akechi, onde a acurácia da disposição das cordas é milimétrica, apenas assistir a este gênio amarrar já o fará surtar.

Ainda mais, o Nawashi Kanna tem uma excelente leitura do coração feminino. Desafortunadamente, o Nawashi Kanna se retirou da vida pública, uma grande perda. Eu não estou sozinho na minha esperança de que ele eventualmente reapareça e nos inspire novamente. (Nota do tradutor: Em 2011 Nawashi Kanna Sensei voltou a vida pública.)

Qual a diferença que faz ter uma parceira como Asagi Ageha em sua habilidade de realizar
performances em clubes?

A situação no Japão é tal que apresentações de Shibari são consideradas parte de apresentações SM. O que o público espera de um Bakushi é ele prover uma mulher amarrada – principalmente cordas, mas pode haver pingos de cera, chicotes e outros acessórios. Falando de maneira geral, o papel da modelo é prover seu corpo para ser exposto e trabalhado. Desta maneira, as modelos permanecem anônimas e raramente são anunciadas pelo nome. Em performances subsequentes, é esperado de um Bakushi ter modelos diferentes. Como resultado, são usadas mulheres jovens devido ao fato de que
elas não têm oportunidade de prover muito mais que a própria pele.

Isso entre nós é uma situação única, sobreviver com a mesma modelo por seis longos anos, como fiz com Asagi Ageha (浅葱アゲハ). O crédito pelo sucesso desta parceria cabe a Ageha, porquê ela produz reações emocionais incríveis no palco, e durante as amarrações você pode sentir uma profunda ligação entre nós. Nestes dias, nosso ato de entrega, à pura graça sem violência ou dor, e a maioria dos fãs aprecia o fato de que apresentamos Shibari como um ato de amor. Trabalhando juntos por tanto tempo nos possibilitou realizar progressos em suspensão que teriam sido próximos ao impossível com qualquer outra modelo. Isso por sua vez trouxe a Ageha muitas admiradoras, que compreenderam quão duro ela treinou para vencer a gravidade sem se partir em pedaços.

Na minha concepção, uma performance bem sucedida de Shibari é 90% modelo e 10% Bakushi, devido a: a) as pessoas pagam para ver a mulher, e b) realizar as amarrações não é realmente um grande negócio.

Eu sou basicamente um rapaz de cordas, não um astro. Então esta situação de Asagi Ageha ser a estrela me cabe muito bem.

Eu posso apenas especular de como a vida em palco seria diferente se esta parceira não existisse.
Eu penso que poderia estar passando por muitas modelos, batendo e as humilhando em frente a espectadores como todo mundo faz – ou eu poderia estar tentando fabricar uma modelo prometida, a deixando realizar seu potencial, e a transformando em uma estrela. Isso é mais fácil de falar do que fazer, pois mulheres que trazem carisma ao palco não crescem em árvores.

Por quê o Kinbaku Japonês é diferente do bondage Ocidental?

Penso que isso é principalmente devido a diferenças culturais. Como Master K em seu último livro The Beauty Of Kinbaku tão graciosamente explicou, os Japoneses estiveram usando corda por milhares de anos. Isso resultou, em alguns setores da sociedade, algo perto de uma obsessão. Se você crescer no Japão, você crescerá com imagens de pessoas sendo amarradas por cordas. Estas imagens são partes do (sub)consciente coletivo nacional.

Se você estudar desenhos de Hojojutsu/Hobakujutsu (捕縛術, 捕縄術), você irá distinguir padrões visuais recorrentes que definem a estética Japonesa de amarração com corda. Agora, se você olhar para uma fotografia contemporânea de uma mulher amarrada neste estilo, um Ocidental irá ver uma mulher e corda – e uma pessoa com propensão ao BDSM pode começar a ter pensamentos eróticos e/ou sado-masoquistas.

Por outro lado, se um Japonês olhar para a mesma figura irá automaticamente (principalmente subconscientemente, suponho) colocará a situação em algum contexto cultural – com as fantasias subsequentes impressas em uma longa história do uso da corda para punir e humilhar.

No Japão, a bondagem com cordas desempenhou um papel tão signigicativo, que até entrou na linguagem. No período Edo, se alguém era colocado sob custódia, as pessoas diziam que a pessoa “recebeu cordas” (o-Nawa o Chodai Suru). Ainda se pode ouvir esta expressão em dramas do período ou a encontrar em romances situados nos tempos antigos.

Em outras palavras, uma bondagem no estilo Japonês, fará, para um observador Japonês e para a pessoa amarrada, invocar emoções muito especiais que são diferentes daquelas dos Ocidentais.

Um bom exemplo são as expressões faciais que você obtém com a amarração de uma mulher japonesa. Algumas delas vêm naturalmente, outras são evocadas através da manipulação geniosa ou do direcionamento inteligente por parte do Bakushi.

Portanto não é surpeendente que, uma amarração Japonesa, na qual foi realizada uma engenharia reversa, quando aplicada por um Ocidental em uma mulher Ocidental, causará reações totalmente diferentes – mentalmente, facialmente e mesmo corporais. O sentimento visceral, quando, olhando para estas figuras é que, algo não está correto. Aos olhos Ocidentais, a amarração aparenta bem Japonesa, mas a estética sutil, que surge naturalmente na Japonesa, está faltando.

Agora se o seu questionamento foi a respeito da diferença entre o Shibari/Kinbaku (que são Japoneses) e o estilo Ocidental de bondagem (oposto à bondagem na qual foi realizada uma engenharia reversa para parecer Japonesa), então eu diria que a bondagem Ocidental a mim me parece mais utilitária. Alguma coisa como se o resultado final fosse mais importante do que a maneira (ou o processo) de amarrar.

Mas novamente, acima de tudo, deve haver prazer. Assim, contanto que ambos protagonistas estejam experimentando bons momentos, você deve amarrar da maneira que quiser.

O que me deixa triste é quando vejo Ocidentais, que nunca estiveram no Japão ou/e que nunca tiveram uma chance de estudar seriamente através de uma dessas dinastias da corda Japonesas, estão se rotulando e a seus trabalhos com terminologia Japonesa, o que no meu entendimento é um sacrilégio –  para não mencionar que esta pessoa deve estar se fazendo de boba.

Qual arte ou artistas o inspiram quando o senhor amarra?

Bem, eu não sou um cara simples. Para mim este gênero Shibari/Kinbaku é mais um artesanatodo que uma arte. Eu não olho para fotografias ou assisto a vídeos. Mas mesmo quando eu devo e acabo cruzando algo legal, eu não poderia usar a palavra inspirar.

A maioria das minhas amarrações é baseada no que eu fui ensinado e no que treinei – e eu apenas me mantenho ajustando, modificando e otimizando estas amarrações para o meu trabalho. Por exemplo se você comparar o Yokozuri (suspensão lateral) que eu realizo atualmente com o que fazia há alguns anos, a diferença é como da noite para o dia – embora os fundamentos se mantenham.

Em meu trabalho eu necessito de amarrações que sejam rápidas o suficiente para encaixar na minha janela temporal. Isso limita o número e o tipo de amarrações que me são úteis. Então eu não estou realmente buscando inspiração.

Sempre que eu realizo Shibari, as pessoas estarão me assistidndo, então eu tenho que ter muito cuidado com quando e onde introduzir uma nova amarração, porquê isso me custa no mínimo centenas de repetições para ganhar a velocidade e a fluidez necessárias.

O que o senhor mais aprecia no Kinbaku?

Vamos incluir também o Shibari nesta questão, pois em um mês normal estou realizando
possivelmente 90% Shibari, mas apenas 10% Kinbaku.

O que eu gosto nestas atividades é a oportunidade de propiciar e receber imenso prazer. Embora esteja especialmente focado enquanto amarro, eu nunca atingi alguma espécie de espaço mental que me ajudasse a balancear minha vida diária. Eu sinto que é bom para mim realizar trabalho manual e ao mesmo tempo ele me esvazia a mente.

Outra coisa que aprecio são as infinitas possibilidades oferecidas pela corda. Você pode usá-la para produzir amarrações altamente técnicas e muito complicadas e elas mesmo direcionarem ao Semenawa (tortura com cordas), ou você pode seguir o estilo acolhedor para Shuuchinawa.

Como tudo é fluido, estes dois estilos principais podem eventualmente se encontrar.

Eu posso ser reconhecido como um especialista em suspensão, mas falando francamente, as suspensões não me realizam. O que eu mais aprecio é o trabalho de chão (Newaza), onde eu posso construir uma conexão emocional com a mulheres que eu amarro.

O senhor pode nos falar mais de seu trabalho nos websites Kikkou.com e
JapanBondage.tv?

O Kikkou.com é um dos primeiros sites do japão sobre shibari em inglês. Ele foi lançado em 1996, e foi largamente responsável pelo início da mania de Shibari no Ocidente. Ele foi a fonte de inspiração para toda uma geração de pessoas que adora amarrar no estilo Japonês.

Penso que foi em 2000 ou 2001 quando as leis Japonesas que regulavam conteúdo sexual mudaram. Como resultado, o site ficou fora do ar por um tempo, até eu abordar Chiba Eizoh Sensei, o proprietário, com uma oferta de $100.000. Ao final, ficou decidido que Chiba Eizoh iria manter a propriedade, mais eu iria ter o site de volta ao ar.

Kikkou.com é um site legendário, e eu encorajo seriamente a todos os que se interessem pelo jeito Japonês de fazer amarrações a conferir.

Pouco tempo depois eu iniciei o site de vídeos JapanBondage.tv. Este site apresenta atualizações semanais de vídeos de Randa Mai, Yukimura Haruki e de outros Bakushi de alto nível, incluindo os meus, evidentemente. Aviso: Este não é um site de corda-pornô!Antes é um site onde você pode obter Shibari/Kinbaku não adulterado, entregue em sua casa, por alguns dos mais bem sucedidos Bakushi no auge de suas carreiras.

Possivelmente eu poderia mensionar que possuo outros domínimos como nawashi.com,
bakushi.comkinbaku.com e mais outras dúzias. No entanto, uma vez que estou ocupado demais amarrando, e ainda não me programei para os encher de conteúdo.

Quais as diferenças para o senhor quando amarra para fotógrafos, vídeos, e apresentações de palco, em oposição a apenas para seu próprio prazer?

Vamos começar com a parte do próprio prazer. Em 99,99% dos casos eu estou amarrando com pessoas observando. Em outas palavras, eu nunca faço cenas privadas. Igualmente, eu nunca pratico ou ensaio. Como resultado, o escopo de minhas amarrações – considerando que estou amarrando profissionalmente agora por algo como oito anos – é bastante limitado.

As amarrações que eu faço, em sua essência, são aquelas que fui suficientemente afortunado para obter dos meus professores, meus Mestres, e meu Sensei. Eu *roubei*[nota do tradutor: observe que em outras entrevistas como ocorre a realação Mestre-Aprendiz no Japão] estas amarrações, e eu as refino no meu trabalho. Eu aprendo no trabalho. Eu poderia estar vivendo os sonhos que as outras pessoas têm, mas ao final do dia eu estou realizando um trabalho.
Evidentemente eu adoro o meu trabalho, mas ele simplesmente não me deixa tempo para mandar f*der o mundo e realizar cenas privadas ou mesmo praticar ou ensaiar.

Por exemplo, não é incomum que eu tenha três diferentes números em três locais diferentes por dia. E não é muito aconselhável na minha posição me envolver romanticamente com nenhuma das minhas modelos.

Agora, amarrar para fotografias ou vídeos, a tendência é ser especialmente não-emotivo e
profissional – com pequenas explosões de energia, sempre mantendo em mente a tarefa em andamento.

No caso de apresentaçõoes de palco, não é o produtor o cliente, mas a audiência. Então, dependendo da audiência em determinada ocasião, eu tenho que adequar o que realizo. Uma vez que apresentações de palco normalmente ocorrem em uma janela temporal curta, eu tenho que ter em mente também o tempo. Se o acordado foram 24 minutos, eu tumultuarei todo o evento se passar em apenas um minuto do meu tempo. Devido a esta janela temporal, adicionando a pressão por entreter uma tonelada de pessoas ao vivo, a energia é completamente diferente da dos ensaios em vídeo ou fotografia, nos quais se você fizer alguma besteira, sempre haverá uma segunda chance.

Qual a coisa mais importante na qual as pessoas devem centrar quando fazem Kinbaku?

A resposta curta é: Siga seu coração.

A resposta longa é, se é Kinbaku o que você deseja fazer, você deve: a) buscar treinamento nas fontes (leia-se: no Japão sob a supervisão de alguém que possui reconhecida alta proficiência) e b)desenvolver a habilidade de ler a pessoa que você está amarrando como se fosse um livro aberto.

Assuntos técnicos à parte, penso que a coisa mais importante que se diferencia nas vantagens Japonesas é a habilidade em ler corretamente a submissa, entender as suas necessidades (que podem mudar em segundos), e ajustar de acordo sua atenção e a ação de amarrar.

Eu descobri que me ajuda, entrar em uma sessão com a mente vazia, completamente livre dos meus próprios desejos. Isto me permite atentar aos sinais e ser receptivo às energias da mulher.

Distância (Ma-Ai) é também muito importante e quando aplicada com consciência pode fazer uma enorme diferença em uma sessão.

O Kanji para Kin em Kinbaku é o mesmo para Kin em Kincho. As pessoas usam a palavraKincho se encontram muito nervosas, como em pânico de platéia, por exemplo. Kin é arrepiante. Kinbaku refere a criar eletricidade e emoções tão profundas que você poderia ouvir um alfinete cair.

Você pecisa tocar sua parceira, você precisa estar totalmente com ela. Existem técnicas que podem ser ensinadas para se atingir isso.

Uma boa sessão de Kinbaku conduzida por um especialista em Bakushi irá deixar a mulher em subspace [Nota do Tradutor: não temos no Português um termo bem definido para isso, trata-se da situação em que a pessoa sente-se dominada pelo/a parceiro/a já logo após os primeiros centímetros de corda terem sido aplicados ao seu corpo.]

O Bakushi numa sessão de Kinbaku se torna o facilitador que permite à mulher entrar em espaço profundo, a um ponto em que ela se desliga do entorno e pode mesmo adormecer. Não há meios de falar com ela, de modo que a única coisa que ela pode ouvir são sons, mas não palavras.

Pegue o ritmo da mulher e deixe fluir. O Kinbaku é um exercício de passos lentos que propiciam sessões longas, apaziguadas e duradouras.

Por causa de tudo isso, eu diria que a maior parte do Kinbaku ocorre no chão (Newaza).

Você não me perguntou sobre isso, mas por favor deixe-me aprofundar na seguinte questão extra:

O quê o senhor pensa sobre o novo livro de Master K, The Beauty Of Kinbaku (A Beleza do
Kinbaku)?

Ahá! Esta é uma questão que eu realmente gosto!

A coisa é, eu sou um cara com a mão na massa quando o assunto é praticarShibari/Kinbaku. Uma vez que sou especialmente interessado nos valores históricos e tradicionais envolvidos, as peças individuais estão dispostas em meu cérebro de uma maneira mais ou menos desorganizada.

Derrepente veio o livro de Master K, e foi como se alguém tivesse me dado a luz.

Uma coisa é saber todos os fatos, mas é outra bem diferente os contextualizar. Master K foi
capaz de juntar todas as peças deste fantasticamente complexo gênero e me fazer compreender a enigmática beleza do que até agora o quê o Shibari/Kinbaku significou para muitos de nós. Saber tudo é uma coisa, mas para botar as coisas lado a lado em conjunto e prover, a nós mortais, uma base estrutural seria necessário um gênio. E Master K é este gênio.

Penso que ainda irá demorar alguns anos para que a comunidade de cordas capte integralmente o que Master K nos deu.

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Links:

Sítio oficial de Osada Esteve: Shttp://www.osadasteve.com

Lições e Shibari Clinics no Japão: http://www.osadasteve.com/classes_en.html

Sobre Studio SIX – Tóquio: http://www.osadasteve.com/studio6_en.html

Corda Osada Original: Loja Virtual

Vídeos de Shibari: http://www.japanbondage.tv/

A mãe de todos os sites de Shibari: http://www.kikkou.com/

Studio SIX / Osada Kinbaku Dojo – Berlim: http://www.studiosix-berlin.info/

DVDs Osada Steve: http://www.japanbondage.tv/php/shop/DVD/index_osos.html