Entrevista com o Sensei de shibari Naka Akira (奈加あきら)

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Shibari Dojo Brasil neste link: Apreciá-lo!

Nota do tradutor: Esta entrevista foi traduzida do sitewww.tokyobound.com com autorização dos responsáveis pelo site.  A tradução foi realizada por Senhor Carlos, Revisão por Sørg e myä.  Nós do Shibari Dojo Brasil, esperamos que vocês apreciem ler esta tradução tanto quanto nós apreciamos realizá-la. Qualquer sugestão de melhoria na tradução entre emcontato.

Foto Naka Akira
Em 2006, Osada Steve teve a honra de entrevistar Naka Akira, um dos mais jovens Nawashi ativos no Japão hoje em dia. O que segue é um sumário em Português
desta discussão.

Osada Steve: Por favor nos diga como o senhor se interessou por Shibari.

Naka Akira: Se diz que todo mundo tem um ponto de virada em suas vidas. Eu tive dois. O primeiro quando eu tinha perto de 30 e tocava uma agência de modelos pornô. Uma das atrizes estava realizando um trabalho para a Cinemagic, uma companhia de produção
de vídeos SM muito conhecida, tive a chance de assistir a uma de suas tomadas. Enquanto eu imaginava não ter absolutamente nenhum interesse em SM, subitamente percebi que estive por toda minha vida negando minha natureza de dominador. Até aquele ponto minha opinião sobre SM era algo como:

“O quê? Amarrar uma mulher e fazer coisas com ela? Que tipo de pessoa faria uma coisa dessas?”

Alguma coisa com aquela tomada de vídeo realmente me impressionou realmente, a ponto de me fazer um giro de 180 graus.

Certo, e eu fiquei totalmente fora de mim com o trabalho de cordas que eu vi lá. O Nawashi que produziu o shibari aquele dia foi Nureki Chimuo.

E foi assistindo Nureki em ação que o senhor decidiu se tornar um Nawashi?

Não, não – Eu jamais imaginei que poderia produzir nada como aquilo. Eu jamais imaginei que aquilo pudesse um dia vir a ser meu o trabalho. Mas Nureki naquele instante percebeu meu nível de interesse não usual e me convidou para participar do Kinbiken, seu círculo de estudos de bondage com cordas. E me tornei um participante regular pelos próximos cinco anos.

O senhor foi muito mais que apenas um participante nos encontros do Kinbiken, não? O senhor não se tornou um Deshi (discípulo) formal de Nureki?

Sim. Eu penso que eu sou a única pessoa que Nureki reconhece como seu verdadeiro Deshi.

Por favor nos conte sobre este relacionamento. O senhor recebeu instrução formal de Nureki?

Não. Aquilo foi uma relação Japonesa mestre-discípulo muito tradicional na qual ele nunca me disse ativamente absolutamente nada. Tudo o que eu aprendi com ele, eu tive que aprender por conta própria, por observação. Eu frequentei os encontros por um ano inteiro antes que ele me autorizasse mesmo a desamarrar uma das mulheres que ele havia amarrado, o que evidentemente é uma excelente maneira de aprender como a amarração foi feita.

O senhor por usa vez possui dois Deshi, um dos quais está sentado agora conosco. O senhor os trata da mesma maneira?

Eu os corrigirei se eles estiverem fazendo algo perigoso, mas basicamente eu conduzo nossa relação na mareira tradicional. Se o discípulo quer conhecimento, ele terá que *roubá-lo*. O professor não o entrega simplesmente. Esta é a maneira que as relações mestre-discípulo são conduzidas em todos os campos Japoneses, seja ela um ofício tradicional ou cozinha fina.

O senhor é diferente da maioria dos Nawashi com quem conversamos, que geralmente descobriram seus interessem em SM desde a escola primária. Eles cresceram folheando revistas SM e portando estiveram expostos ao trabalho de diferentes mestes em corda. Mas o senhor veio ao Shibari muito tarde, e foi imediatamente para o domínio de Nureki.

É verdade. Evidentemente que eu observei em revistas para entender o trabalho de outros Nawashi, mas é verdade, Nureki é a minha única influência. Eu dispendiei algum tempo buscando em antigas revistas pelo seu trabalho inicial. Ele provavelmente ficará com raiva se me ouvir dizendo isso, mas penso que o trabalho que ele esteve fazendo nos seus quarenta é praticamente idêntico ao que eu realizo agora. Uma vez que ainda estou nos meus quarenta, isso me dá esperança de que algum dia eu possa ser tão bom como ele.

O senhor está desenvolvendo um estilo próprio?

Estou trabalhando muito próximo ao estilo de Nureki, e tentando duramente dominar o que ele faz. Meu trabalho com cordas é limpo, preciso e muito apertado, porquê eu não posso deixar as cordas escorregarem. Mas a verdadeira arte no trabalho de Nureki é o Kuzushi – as pequenas irregularidades que fazem sua amarração parecer real, viva e não estudada. Por exemplo, olhe para esta foto – ele não fez as cordas do peito muito alinhadas. Se um amador fizesse isso, você poderia dizer que foi um trabalho descuidado, ou um erro. Mas quando Nureki faz isso, ele tensionou perfeitamente cada corda e isso é um trabalho deliberado, calculado, parte de seu plano mestre. Por exemplo, uma vez ele me disse fazer pequenas irregularidades a fim de trazer melhor à câmera as características da corda, enfatizando as sombras e a textura e assim toda a composição parecer melhor. Eu não tenho este tipo de domínio da corda. Aprender a fazer isso provavelmente me vai
levar toda a vida.

O que mais o senhor pode nos falar sobre Nureki?

Nureki inicialmente foi um escritor e se iniciou no mundo do SM como contribuidor a Kitan Club, a primeira revista Japonesa de SM. Naquele tempo, Kitan Club ainda era editada pelo grande Minomura Ko, um homem com tremenda influência no desenvolvimento do SM em seu país. Minomura teve dois Deshi – um deles foi Dan Oniroku e o outro, Nureki Chimuo. Dan se pôs a escrever e se tornou um dos mais famosos escritores eróticos Japoneses, manuscrevendo romances como Hana to Hebi. Ao mesmo tempo, Nureki se pôs a fazer bondagem com cordas e se tornou um grande Nawashi. No entanto, Nureki também nunca parou de escrever. E ele foi o escritor de diversos livros importantes, têm contribuído regularmente para as publicações SM até os dias de
hoje.

Grato por esta interessante informação histórica. Vamos retornar agora. Como o senhor se profissionalizou?

Uma das pessoas que acabei conhecendo através dos encontros do Kinbiken foi o presidente da Cinemagic, Yokobatake Kunihiko. Ele esteve me observando nos encontros do Kinbiken, e eu creio que falou a meu respeito com Nureki. De qualquer forma, ele me ofereceu a oprtunidade de fazer um trabalho de cordas para um vídeo, mas com uma condição – que eu pudesse aparecer em frente às câmeras. Eu não tinha experiência alguma como ator e inicialmente recusei, mas ele me convenceu a tentar. Penso que me queria nas câmeras em parte porquê eu tenho extensas tatuagens e ele as queria no filme.

Por favor nos fale das tatuagens do senhor. Elas são realmente impressionantes.

Eu me interessei por tatuagens desde a terna idade, mas sabia que meu pai não aprovaria e eu não o queria ofender. Mas depois da sua morte, quando eu tinha 30, fui me encontrar com Horitoku, um dos melhores tatuadores do Japão. Ele aceitou trabalhar em mim, e demorou um ano e meio de visitas semanais para completar a tatoo que cobre inteiramente minhas costas e ombros. É uma lenda famosa, de um herói lutando contra uma carpa. Ela se chama Oniwakamaru no Koi Taiji.

Então o senhor teve a oportunidade num vídeo da Cinemagic. E isso foi há dez anos (Nota do Tradutor: em 2006), certo? E qual tipo de trabalho que o senhor está realizando agora?

Eu trabalho quase que exclusivamente em áudio-visual, produzindo de 200 a 300 vídeos e DVDs por ano. Eu filmo ativamente aproximadamente a metade de cada mês. Eu praticamente não realizo trabalho para revistas e nunca experimentei apresentar ao vivo, até muito recentemente.

O que fez o senhor se interessar em começar a se apresentar?

Em parte porquê eu queria atingir uma nova audiência, e em parte foi um desafio pessoal de fazer um tipo de trabalho diferente. Desde o começo, eu tinha idéias muito específicas sobre qual tipo de apresentação eu gostaria de fazer. Eu sabia que não queria fazer aquela postura tipo do cara rude, na qual ele põe a mulher aos empurrões. Então eu conduzo a minha modelo, eu a escolto, como um cavalheiro. E eu não desejo fazer trabalho rápido, acrobático, com cordas. Ao invés disso, eu trabalho lento, e com sentimento, e tento canalizar todo o amor e emoção que se passa entre um homem e uma mulher enquanto ela é amarrada.

Eu não realizo nenhum outro tipo de jogo SM nas minhas apresentações, como usar chicotes ou velas, porquê eu quero aproveitar meu tempo mostrando o que pode ser feito apenas com cordas.

Notei que o senhor utiliza apenas materiais tradicionais nas amarrações.

Correto. Eu não uso mosquetões, ganchos ou metal de tipo algum. Quando estou realizando suspensão, eu uso apenas varas de bambú ou artimanhas em corda para prender minhas linhas de suspensão.

Eu utilizo Asanawa [corda de juta] em segmentos de 7 metros. Se estou amarrando sobre
vestimenta, eu uso corda de 6mm, mas sobre pele nua, prefiro a corda de 4mm, particularmente se estou amarrando pernas ou realizando amarrações intrincadas.

Se alguém quiser estudar o estilo do senhor, qual seria a melhor maneira?

Eu recomendaria dar uma espiada na minha série da Art Video, Nawa-Etsu. Estas produções são completamente devotadas ao bondage com cordas e não têm a distração de
outros tipos de jogos SM. Devido ao fato deles serem focados em um mercado muito específico, pessoas que estão realmente interessadas no Shibari, as séries Nawa-Etsu mostram o trabalho em cordas em grande detalhe. É um mercado pequeno, mas o fato de sermos capazes de realizar seis filmes nestas séries já pode significar que estamos satisfazendo as necessidades do mercado.

O senhor disse que houveram dois pontos de virada na vida do senhor. Qual foi o outro?

O outro ocorreu no ano anterior, quando sofri um sério ataque do coração e quase morri. Eu passei um mês no hospital e muitos meses me recuperando. Ver a face da morte desta maneira me fez reavaliar tudo o que estava fazendo, e me ajudou a focar nas coisas que para mim eram as mais importantes, primeiro e antes de tudo minha família.

Isso também me ajudou a focar no meu trabalho, e minha técnica com cordas se tornou muito melhor.

Onde o senhor quer chegar em dez anos?

Ao topo. Eu gostaria de ser o melhor Nawashi do mundo.

Há alguém que o senhor gostaria de trabalhar em conjunto? Qual o seu sonho em colaboração?

Para o presente momento, pensei que adoraria uma apresentação de kinbaku com música de violino ao vivo. Então meu sonho em colaboração poderia ser a violinista Kawaii Ikuko.

Ela é uma violinista profissional e muito famosa, então estou certo de que estaria totalmente fora de questão que ela viesse a colaborar comigo. Mas sua face enquanto está tocando é exatamente a face de uma mulher enquanto está sendo amarrada.

Esta é a razão para eu gostar tanto dela.

Nota do tradutor: As fotos desta entrevista foram tiradas do site oficial do Nawashi Naka Akira: www.nakaakira.com.


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