Entrevista mestre do shibari Yukimura Haruki

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A Beleza em Corda – A arte de Yukimura Haruki (雪村春樹)

Nota do tradutor: Esta entrevista foi traduzida do site www.tokyobound.com com autorização dos responsáveis pelo site.  A tradução foi realizada por Senhor Carlos, Revisão por Sørg e myä.  Nós do Shibari Dojo Brasil, esperamos que vocês apreciem ler esta tradução tanto quanto nós apreciamos realizá-la. Qualquer sugestão de melhoria na tradução entre em contato.

Segue mais uma da série de entrevistas conduzidas por Osada Steve (長田スティーブ) com um dos melhores especialistas em corda do Japão. Yukimura Haruki é um dos nomes mais reconhecidos e em virtude de milhares de vídeos e revistas nas quais ele figurou, é também uma das faces do SM no Japão de hoje. Espero não me alongar para dizer que a primeira vez que assisti a um dos vídeos de Yukimura Haruki foi há  20 anos atrás.  Esta entrevista foi conduzida na luxuosa residência de Yukimura Haruki no distrito Ebisu de Tóquio.

Osada Steve: De todos os Nawashi profissionais atualmente em atividade, eu devo dizer que o trabalho de cordas do senhor é o mais belo que já vi. Qual a coisa mais importante para o senhor? Que suas amarrações pareçam bonitas?

Yukimura Haruki: Esta é certamente uma das coisas mais importantes. Você deve entender que a maior parte do meu trabalho é para câmera – eu já fiz mais de 2.500 vídeos de bondage com cordas, assim como fiz muito trabalho para fotógrafos. Então, sim, é muito importante na maneira que eu amarro a mulher o apelo visual. Mas também a mulher tem que se sentir bem. Se ela não estiver se sentindo bem nas minhas cordas, então nada irá parecer bom, não importa o quão graciosas as cordas estiverem. Fundamentalmente, todos os homens possuem um fetiche pelo rosto; eles querem ver o êxtase na face de uma mulher.

OS: Quando o senhor começou a se interessar por Shibari?

YH: Meu primeiro contato com SM ocorreu enquanto ainda estava na escola fundamental. Eu encontrei o esconderijo de desenhos eróticos do meu pai e tive um sentimento engraçado quando bati os olhos nas figuras de mulheres amarradas. E então esqueci tudo isso até me tornar sexualmente ativo, como jovem adulto, e percebi que gostaria de amarrar todas as garotas que avistava. Evidentemente, algumas delas me deixavam assim que eu tentava, mesmo assim, sempre curti o drama de ver o que acontecia quando eu puxava uma corda enquanto as beijava. Eu adorava ver as reações delas.

OS: O que é Shibari para o senhor?

YH: Para mim, Shibari é uma troca emocional entre um homem e um mulher. Isso é algo único no Japão – de expressar amor e emoção através da corda. Então Shibari não é como você faz esta, ou aquela amarração, é como você usa a corda para trocas emocionais com uma mulher.

OS: Como o senhor se tornou profissional?

YH: Quando era jovem, eu trabalhava como fotógrafo, fazendo todos os tipos de fotografia. Pelos meus trinta, comecei a realizar fotografia erótica. Eu experimentei diversas técnicas diferentes para fazer a modelo ficar mais bonita e mais erótica. Experimentei todos os tipos de métodos para pegar uma expressão completamente diferente de qualquer outro fotógrafo, e uma destas técnicas foi amarrar. Gradualmente, fui gastando mais tempo nas cordas do que na fotografia. Em algumas, primeiro eu amarrava a modelo e depois retornava à câmera para tirar a fotografia e outras vezes eu queria me incluir na composição, para um efeito diferente. Nestes casos, eu tinha que ter alguém comigo na câmera para tirar a foto. E chegando aos meus quarenta, minha parte agora é apenas oShibari.
OS: Isso me recorda: parece que há muita confusão fora do Japão em torno do termo Nawashi. Existe uma tendência entre os Ocidentas de pensar que existe algum tipo de processo de qualificação. Como o senhor poderia definir o termo Nawashi?
YH: Existe um relativamente novo mundo, que foi construído no pós-guerra, provavelmente através de pessoas comentando algumas das revistas SM que foram populares naquela época. O termo Nawa significa corda, e Shi é uma espécie de apêndice para indicar uma artesania ou ofício – indicando algo como “proficiência em”.
Não existe um processo de qualificação ou padrões oficiais, então é difícil dizer quando você deveria começar a chamar alguém de Nawashi. Mas eu devo reservar o termo para um profissional proficiente – alguém que convive com Shibari e que seja muito bom nele. De qualquer maneira, há outras palavras relacionadas a Nawashi para alguém que executa cordas profissionalmente. Normalmente eu uso o termo Bakushi. Ele vem da palavra Baku(restrição), como em Kinbaku.
OS: Há Ocidentais que usam o termo Nawashi para designar qualquer um que utiliza cordas, independente de se é bom, ou mesmo que possui algum treinamento formal em Shibari.

YH: Por quê usar um termo Japonês se aquele não é um estilo de bondagem Japonês? E não, eu nunca usaria o termo Nawashi para um amador, e certamente não para algúem que não estudou a arte por anos no Japão.

OS: OK, vamos retornar ao estilo do senhor. O senhor é conhecido pela maneira como conversa com a mulher enquanto a amarra, sussurrando coisas ao pé do ouvido e fazendo comentários picantes sobre seu corpo e do que irá acontecer a ela. Isso realmente cria uma atmosfera carregada. É por isso que o senhor faz isso?
YH: Definitivamente, o sussurrar é parte do meu estilo e o faço desde o início da minha carreira. Eu sussuro por duas razões básicas: a primeira, para dar à pessoa que opera a câmera o sinal sobre o que irá ocorrer em seguida e então ele ou ela, podem se preparar para focar aquela parte do corpo da modelo. Se eu digo algo como, “Heh he, eu aposto que encontrarei pequenas e doces tetinhas sob esta camisa,” o operador da câmera tem uma dica de que em seguida irei me centrar nos peitos da modelo. Ao mesmo tempo, meus comentários são evidentemente muito constrangedores para a modelo que estou amarrando. O outro motivo do meu sussurrar é acrescentar um pouco de estória à cena. Eu posso murmurar para a mulher enquanto a amarro, “Você chegou tarde ontem à noite. Onde você estava? Fora assim tão tarde! Com algum rapazinho jovem, não é isso?” É melhor que o expectador possa acreditar que existe uma razão para eu estar amarrando, que existe uma motivação emocional para eu estar conduzindo minhas cordas.
OS: Há algum vídeo que o senhor seja especialmente orgulhoso?

YH:Eu fiz tantos que é difícil de destacar algum deles em particular. Mas anteriormente, eu mencionei Jouen, um vídeo que eu dirigi para a Cinemagic no final dos anos 1980. Este correu especialmente bem. Foi uma colaboração com Minomura Ko, que foi o editor daKitan Club, uma antiga famosa revista SM (não mais publicada). Inicialmente, era para ser uma revista de natureza e vida selvagem, mas então quando Minomura assumiu como editor, ele a transformou em uma revista SM. Ele realizou muito trabalho por conta própria – tudo, desde escrever estórias, a tirar fotografias e mesmo fazer ilustrações. os leitores podiam enviar cartas sobre seus próprios fetiches e quando escreviam razoavelmente bem, ele os encorajava a escrever para a revista com regularidade. Um dos autores SM que ele ajudou a promover foi Dan Oniroku.

OS:  Minomura Ko também fez Shibari? Como era seu trabalho em cordas?

YH: Minomura utilizou cordas de algodão e usava no máximo, apenas cinco cordas. Ele uso cordas macias porquê não queria machucar a pele da mulher. Sua ênfase era em difamar a mulher enquanto a amarrava. Ele podia levar a modelo a uma taverna tradicional Japonesa e a amarrar a um dos pilares do estabelecimento. Então ele se sentava com um frasco de saquê e dizia coisas embaraçosas para ela. E por todo o tempo, ele a estaria observando – tirando fotografias ou a desenhando para as ilustrações – e escrevendo suas impressões de como ela lhe parecia nas cordas. Tudo isso poderia ir para a revista.

OS: Pessoalmente, me sinto atraído por amarrações elaboradas, realmente complicadas. Isso é o que eu gostaria de aprender. Quando observo o senhor fazendo algo realmente complicado, eu penso, “Uau. Yukimura Haruki é o único cara do mundo que pode fazer isso.” Como o senhor  atinge concentração suficiente para fazer isso? Quais idéias o vêm à mente?

YH: As idéias vêm da mulher, da tensão sexual que se constrói dentro dela, enquanto a amarro. Digamos, eu amarrei uma mulher, e ela se envaideceu, e talvez ela queira que eu lhe faça coisas que ela goste, como lhe bater na cara ou a espancar. Mas eu faço apenas cordas. Isso é a única coisa que eu faço. Então eu respondo pela tensão dela adicionando mais cordas. É daí que vêm as amarrações complicadas.
Se você quiser realmente fazer bem o Shibari, você terá que amarrar muitas mulheres, porquê cada mulher o ensinará algo e o dará novas idéias. Tenha em mente que cada amarração, mesmo as mais simples, irão variar, dependendo do tipo e do tamanho do corpo da mulher que você estiver amrrando. Nunca será exatamente igual. E você irá querer variar o que faz, dependendo do corpo da mulher. Por exemplo, penso que uma mulher com longos antebraços ficaria realmente atraente com seus braços atados altos em suas costas. Isso realçaria as linhas do abdomem dela. Mas se a mulher tiver braços curtos, isso não ficaria muito bom e eu tentaria algo diferente. Certa feita eu desenvolvi uma amarração singular e muito bonita porquê estava trabalhando com uma modelo completamente sem seios. Eu estava tentando novas idéias para apresentar seu peito chapado de alguma maneira realmente atraente. E eu jamais teria tido a idéia de tentar aquilo se ela tivesse grandes seios.
Atualmente, geralmente não faço muitas amarrações complicadas para meus vídeos. Eu tendo a deixar a corda elegantemente simples e criar um drama e tensão quando manipulando outros fatores, como o tempo. Por quanto tempo a deixarei nas cordas? Quando a irei desamarrar e reamarrar? Mas se estou trabalhando para fotografia, e particularmente se o fotógrafo deseja focar em uma parte do corpo e as expressões faciais da modelo não irão compor o ensaio, então eu começo a usar mais corda e fazer amarrações mais complicadas. Nestes casos, eu não irei trabalhar com toda a mulher. Eu estarei trabalhando apenas com uma parte do seu corpo e a combinando com a corda para criar um [novo] objeto.

OS: O senhor já deve ter amarrado algo como mil mulheres diferentes. O senhor já se apaixonou ou ficou excitado?

YH: Eu já tive um ou dois relacionamentos com submissas que duraram por um ano ou mais,  mas este tipo de relacionamento sustentado é realmente exaustivo. Este é o meu trabalho, então é mais conveniente que me aproxime de uma modelo pensando em termos de um affair casual – que será um romance de algumas horas apenas. Então eu poderei realmente me dar de todo coração. E eu preciso dar a ela tudo o que tiver a fim de obter o melhor dela na câmera. Se eu não abrir meu coração a ela, ela não abrirá o seu para mim.Mas para responder ao seu questionamento, sim, eu me apaixonei. Foi apenas recentemente que consegui me tornar relativamente desapegado e frio na minha relação com as modelos. Mas sinto que a excitação faz parte do que sou hoje.

Nota do Shibari Dojo: O site japanbondage.tv possui diversos diversos vídeos disponíveis para assistir online e efetuar download, através da assinatura. Altamente recomendável!

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